Como uma tradição de família, resolvi adquirir um Caderno de Receitas, ou melhor, o meu Caderno de Receitas. Afinal, quem pretende se casar tem que ter um caderno de receitas, pelo menos as receitas que o futuro marido gosta!
Aprendi com minha mãe e com minha vó Stela. Todas têm um caderno de receita. O da minha mãe já está até amarelo, sem capa. muito, muito velhinho mesmo.
Não queria simplesmente um caderno, com a capa que tivesse na hora que fosse comprá-lo. Queria um caderno com uma capa diferente, trabalhada e que lembrasse ser de receitas ao vê-lo de longe. Mas o que fazer na capa e como fazê-la?
Conversando com minha tia Eunice sobre aplicações, resolvi fazer a capa com aplicação, um trabalho diferente do que eu costumo fazer. Mas que figura devo aplicar na capa?
Em um dos dias que minha tia estava aqui em Ipatinga, ela arrumou uns riscos diferentes para fazer aplicação. Quando cheguei em casa e vi os riscos, eu amei! Eram riscos de galinhas e pensei: o motivo é esse, galinhas em aplicação.
Peguei umas dicas com ela, comprei os materiais e quando sai de férias em janeiro, aproveitei para colocar a mão na massa, ou melhor, na capa, por enquanto!
A inspiração foi tanto que resolvi fazer também a parte da costura quando a aplicação já estava pronta. No último sábado das minhas férias, peguei a máquina da minha tia Elza, que também me deu umas dicas, e fiquei costurando a manhã toda. Mede daqui, corta dali, passa, elabora a montagem do caderno, alinhava, costura. Ufa!!! Ficou pronto.
Olha, não é para me gabar, mas como foi a primeira vez que fiz bordado apliquê, o meu caderno ficou lindo:
Agora só falta encher o meu caderno de receitas... E já aproveitei o feriado de Carnaval e comecei a copiar algumas receitas da minha mãe!!!
Uma breve história...
O mais antigo livro de cozinha de que há conhecimento é atribuído ao grego Arquéstrato (séc. IV a.C.). Contudo não chegou até aos nossos dias. Um pouco mais tarde Ateneu e depois Apício deixaram textos que constituíram durante um longo período da História, importante matéria em termos culinários.
O primeiro livro de cozinha da Idade Média é um tratado em francês antigo, do início do séc. XIV. Tinha uma forte componente de receitas à base de especiarias e pratos de peixes e caça.
O Viandier de Taillevent (1380) e o Ménagier de Paris (1392) foram, verdadeiramente, os primeiros dispensários de cozinha, difundindo modos de preparação, técnicas de cozinha e receitas. Até ao séc. XVII continuaram a ser obras de referência.
A primeira evolução nestas obras, dá-se com os cozinheiros italianos que acompanhavam Catarina de Médicis. Introduziram os pratos feitos com açúcar, doces, compotas de frutas. Le Bastiment de recettes, publicado em Veneza e traduzido em Lião no mesmo ano (1541) é um manual de confeitaria.
Durante o Renascimento, os médicos reais têm um importante papel na literatura culinária. São recomendadas curas com frutos, e fixam as horas das refeições.
Uma nova evolução nos livros de cozinha é assinalada com a publicação do Cuisinier Français, com um considerável número de receitas, predominando as sopas, os pratos de ovos, de legumes e de carnes.
Entretanto, novos produtos suscitam novos escritos. Por outro lado a cozinha francesa simplifica-se, surgindo novos tratados relativos às novas iguarias.
O séc. XVIII viu florescer os livros de cozinha. A Revolução Francesa (1789) traz novos ideais, e também novas formas de se encarar a arte culinária. Surgem livros para “receitas simples e económicas” (nomeadamente de batatas).
No séc. XIX alguns donos de grandes restaurantes pegam na pena e começam a escrever sobre gastronomia. Os escritos proliferam, assim como as receitas.
Com o séc. XX o livro de cozinha torna-se num género extremamente diversificado. Ao lado das receitas de grandes cozinheiros surgem as crónicas culinárias e as críticas.